quinta-feira, 29 de julho de 2010

Para um diamante qualquer

"- Meu bem, calma aí . . . Por favor permaneça uma criança em algum lugar no seu coração!
- Você não me ama mais? [barulho de carros e gritos ao fundo]
- Não se trata disso...
- Trata-se do que então?!



Eu tenho uma toalha com o número 42 que levo pra todo lugar.
Eu sou jovem e ainda me iludo com minhas esperanças.
Eu tenho a droga da luz elétrica.
Eu sou um ser racional [somos?] e faço parte da porcaria do progresso. Isso não é o bastante pra você?

Eu tenho uma capacidade incrível de conhecer os segredos das pessoas.
E eu tenho um senso maravilhoso de observação(que, por sinal, você nunca percebeu).
É por isso que não perco minhas fichas tentando ligar pra você, pois sei que não está em casa.

Eu tenho todos os doces que você sempre desejou.
E eu tenho as fileiras prontas para você.
Eu tenho os seus diamantes!
E eu conheço a fada que te faz bem...

Mas ainda não te ligarei, pois ainda não haverá ninguém em casa (Hello?! Is there anybody in there?Is there anyone in home?).

Eu tenho os meios para qualquer fim.
E parece que ele está cada vez mais próximo...


Em algumas coisas você não é tão boa.
Como em sorrir, em chorar e mentir.
Algumas pessoas se tornam muito confiantes, babe."

sábado, 17 de julho de 2010

Naquela noite, eles poderiam ter conversado sobre qualquer coisa. Poderiam ter falado sobre a origem da vida, o universo e de tudo mais. Poderiam ter tido aquela conversa de gente que não se conhece muito bem, falando sobre futebol, tevê, colocando a culpa no governo de qualquer coisa que ele talvez nem fosse culpado, sobre como está quente e se questionando quando vai chover. Poderiam ter discutido essas coisas que a gente discute com o chefe, o professor, a mãe ou qualquer outro tipo de autoridade. Poderiam ter falado de planos, filhos, carreira, religião, futebol, política e esses outros assunto que a gente não discute por que sempre acaba em confusão. Em noites assim, a gente fala de coisa que nem se deve falar.

Quem estivesse na Rua Harmônica e entrasse no bar que existe próximo ao fim da rua (que não tem saída) logo veria um casal discutindo sobre, basicamente, qualquer coisa. Ou todas as coisas. Poderia, ainda, pedir uma cerveja gelada enquanto aguarda o prato do dia, o qual é sempre melhor que o do dia anterior, e contemplar a discussão.

Ela parecia ser bem maior enquanto falava. Bem assim como uma gata que se arma para parecer maior antes da investida. A cabeleira loira tornara-se prata sob o luar e os olhos negros indicavam a que ponto(s) olhar na face branca. Ele parecia não se assustar com a intimidação dela e sustentava durante todo o tempo um sorriso de canto de boca.

Quando chegava a vez dele de falar, ela impunha ao ambiente uma serenidade que poucas vezes apareceu por aquelas bandas. Ele continuava com seu sorriso sem alterar a sua postura no embate.

Ficaram a noite inteira conversando no bar. Por fim, ele deu-se conta que concordaria com qualquer coisa que ela dissesse. E ela percebeu que havia muito tempo desde que alguém a ouviu com tamanha atenção.

Ela cheirava a chocolate.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Preto e Branco

"Era uma vez, Deus. Sentindo-se muito solitário, Deus criou um planeta. Depois disso, para lhe fazer companhia, resolveu criar seres para viverem no planeta. Deus estava tão empolgado com sua brilhante idéia que resolveu desenhar, o mais rápido possível, todos os seres que viveriam no planeta. Pegou sua caixa de lápis-de-cor e alguns papéis e pôs-se a desenhar. Gastou horas e horas com isso, imaginando, desenhando, apagando e redesenhando tudo o que gostaria que tivesse no planeta. Com o lápis azul desenhou um grande oceano, vários lagos e rios. Com o lápis verde, coloriu várias florestas pelo planeta. Com o lápis amarelo e com o preto, desenhou as onças, pumas e jaguares. Com o cinza, elefantes, rinocerontes e hipopótamos. Com várias cores desenhou pássaros e peixes. E assim, nesse processo, foi preenchendo a Terra com tudo o que havia imaginado. Contudo, quando chegou a vez de desenhar as pessoas, Deus começou a ficar sem lápis coloridos. Dessa forma, não pôde dar aos seres humanos a mesma diversidade de cores que fora dada aos animais. Mesmo com essa dificuldade, conseguiu se virar muito bem e desenhou milhares de pessoas para o planeta. Entretanto, quando Deus foi desenhar Lucy, só lhe restara o lápis preto. Como tinha pressa, e agora poucos recursos, Deus decidiu empenhar-se ao máximo nesse projeto. Gastou muito, muito tempo desenhando apenas com lápis preto uma garotinha. Deu bastante atenção aos olhos. Desenhou e apagou dezenas de vezes aos mãos, pois queria algo de aspecto frágil, mas que pudesse ter a força de 10 homens de vez em quando. Ficou muito tempo rabiscando os cabelos, fio por fio. Lucy deu muito trabalho e quando ficou pronta Deus teve que criar uma categoria para encaixá-la, e daí nasceu a idéia que temos de perfeição. Ela não tinha sido apenas mais uma das obra do cara que criou tudo, mas tinha sido 'A' criação, 'O' desenho, mais ou menos como 'E'le. Hoje Lucy anda por aí, gabando-se inconscientemente de ter sido produto de apenas um lápis preto no papel branco, sentindo orgulho de ser um dos melhores, e preferidos, desenhos de Deus!"