sábado, 17 de julho de 2010

Naquela noite, eles poderiam ter conversado sobre qualquer coisa. Poderiam ter falado sobre a origem da vida, o universo e de tudo mais. Poderiam ter tido aquela conversa de gente que não se conhece muito bem, falando sobre futebol, tevê, colocando a culpa no governo de qualquer coisa que ele talvez nem fosse culpado, sobre como está quente e se questionando quando vai chover. Poderiam ter discutido essas coisas que a gente discute com o chefe, o professor, a mãe ou qualquer outro tipo de autoridade. Poderiam ter falado de planos, filhos, carreira, religião, futebol, política e esses outros assunto que a gente não discute por que sempre acaba em confusão. Em noites assim, a gente fala de coisa que nem se deve falar.

Quem estivesse na Rua Harmônica e entrasse no bar que existe próximo ao fim da rua (que não tem saída) logo veria um casal discutindo sobre, basicamente, qualquer coisa. Ou todas as coisas. Poderia, ainda, pedir uma cerveja gelada enquanto aguarda o prato do dia, o qual é sempre melhor que o do dia anterior, e contemplar a discussão.

Ela parecia ser bem maior enquanto falava. Bem assim como uma gata que se arma para parecer maior antes da investida. A cabeleira loira tornara-se prata sob o luar e os olhos negros indicavam a que ponto(s) olhar na face branca. Ele parecia não se assustar com a intimidação dela e sustentava durante todo o tempo um sorriso de canto de boca.

Quando chegava a vez dele de falar, ela impunha ao ambiente uma serenidade que poucas vezes apareceu por aquelas bandas. Ele continuava com seu sorriso sem alterar a sua postura no embate.

Ficaram a noite inteira conversando no bar. Por fim, ele deu-se conta que concordaria com qualquer coisa que ela dissesse. E ela percebeu que havia muito tempo desde que alguém a ouviu com tamanha atenção.

Ela cheirava a chocolate.

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