quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Depois do carnaval


Maria Eduarda era doida por informação. Lia de tudo. Quando criança era a alegria dos pais, que a mostravam a todos e diziam que ela era uma criança muito inteligente, que lia de tudo, que quando crescesse seria uma doutora!
Maria Eduarda cresceu e não virou doutora. Continuava inteligente e cada vez mais doida por informação. Mas agora começava a dar uma pontinha de preocupação para os pais, que diziam que já era hora dela se acertar na vida, começar a ganhar seu dinheirinho e ajudar em casa. 
Por muito tempo ela se achou superior aos outros coleguinhas de classe. E quando cresceu e foi para a primeira faculdade, também. Mas agora, que já largou Medicina, Direito e Engenharia Mecatrônica, Maria Eduarda se sentia um trapo. Ser inteligente não era uma bênção, era uma maldição. 
Ela caiu numa profunda crise existencial e passava o dia na internet procurando diversos artigos de diversos assuntos apenas marcando-os, favoritando e separando em pastas para ler depois. Já não lia mais um artigo completo, no máximo passava os olhos. Ia já para o próximo, para marcá-lo e separá-lo na sua pasta apropriada para que depois, quando ela estivesse mais calma e com tempo, pudesse ler sem preocupação.
90% dos favoritos nunca foram lidos. 
No fim do ano, já cansada da pressão dos pais, mas mais ainda cansada da situação em que ela constatou que se encontrava, fez uma promessa: - Depois do carnaval, eu dou um jeito na minha vida!
A mãe dela ficou muito feliz. Fez questão de levá-la à praia na virada de ano para pular as ondinhas e tudo mais. Na cabeça dela, a promessa havia sido sacramentada, passada em cartório, e finalmente sua filha e tomar um rumo na vida.
Maria Eduarda prometeu ainda que antes do carnaval faria tudo que ela ainda não tinha feito na vida: descansar. Sem livros ou internet, só o básico, sabe? Planejou meticulosamente o que faria depois do carnaval, que curso iria fazer, qual faculdade frequentar, esse tipo de coisas. Tava tudo lindo. Dona Marta, mãe dela, todo dia dizia pro marido: "agora é pra valer, Zé!".
No carnaval, ela foi pra Olinda. Se acabou de dançar frevo, fez muitos amigos e fez ainda outra promessa, de voltar no próximo ano.
O carnaval chegara ao fim. Passou. O ano iria finalmente começar. 
Chegou em casa eufórica, realmente empenhada em cumprir suas metas. Ligou o computador e foi se atualizar do mundo!
O tempo passou e ela realmente conseguiu fazer o que queria depois daquele carnaval. 
Anos depois, consegui firmar-se como uma grande escritora. Casou e teve dois filhos. O mais velho já saiu de casa. O mais novo sempre foi orgulho da família. Menino inteligente, lia de tudo! 
Maria Eduarda discutia todos os dias com o filho sobre o futuro dele e perdia a cabeça quando ouvia diariamente a mesma resposta: depois do carnaval a gente vê isso.

Maria Eduarda nunca voltou à Olinda.