Maria Eduarda era doida por informação. Lia de tudo. Quando
criança era a alegria dos pais, que a mostravam a todos e diziam que ela era
uma criança muito inteligente, que lia de tudo, que quando crescesse seria uma
doutora!
Maria Eduarda cresceu e não virou
doutora. Continuava inteligente e cada vez mais doida por informação. Mas agora
começava a dar uma pontinha de preocupação para os pais, que diziam que já era
hora dela se acertar na vida, começar a ganhar seu dinheirinho e ajudar em
casa.
Por
muito tempo ela se achou superior aos outros coleguinhas de classe. E quando
cresceu e foi para a primeira faculdade, também. Mas agora, que já largou
Medicina, Direito e Engenharia Mecatrônica, Maria Eduarda se sentia um trapo.
Ser inteligente não era uma bênção, era uma maldição.
Ela
caiu numa profunda crise existencial e passava o dia na internet procurando
diversos artigos de diversos assuntos apenas marcando-os, favoritando e
separando em pastas para ler depois. Já não lia mais um artigo completo, no
máximo passava os olhos. Ia já para o próximo, para marcá-lo e separá-lo na sua
pasta apropriada para que depois, quando ela estivesse mais calma e com tempo,
pudesse ler sem preocupação.
90%
dos favoritos nunca foram lidos.
No
fim do ano, já cansada da pressão dos pais, mas mais ainda cansada da situação em
que ela constatou que se encontrava, fez uma promessa: - Depois do carnaval, eu
dou um jeito na minha vida!
A
mãe dela ficou muito feliz. Fez questão de levá-la à praia na virada de ano
para pular as ondinhas e tudo mais. Na cabeça dela, a promessa havia sido
sacramentada, passada em cartório, e finalmente sua filha e tomar um rumo na
vida.
Maria Eduarda prometeu ainda que
antes do carnaval faria tudo que ela ainda não tinha feito na vida: descansar.
Sem livros ou internet, só o básico, sabe? Planejou meticulosamente o que faria
depois do carnaval, que curso iria fazer, qual faculdade frequentar, esse tipo
de coisas. Tava tudo lindo. Dona Marta, mãe dela, todo dia dizia pro marido:
"agora é pra valer, Zé!".
No
carnaval, ela foi pra Olinda. Se acabou de dançar frevo, fez muitos amigos e
fez ainda outra promessa, de voltar no próximo ano.
O
carnaval chegara ao fim. Passou. O ano iria finalmente começar.
Chegou
em casa eufórica, realmente empenhada em cumprir suas metas. Ligou o computador
e foi se atualizar do mundo!
O
tempo passou e ela realmente conseguiu fazer o que queria depois daquele
carnaval.
Anos
depois, consegui firmar-se como uma grande escritora. Casou e teve dois filhos.
O mais velho já saiu de casa. O mais novo sempre foi orgulho da família. Menino
inteligente, lia de tudo!
Maria
Eduarda discutia todos os dias com o filho sobre o futuro dele e perdia a
cabeça quando ouvia diariamente a mesma resposta: depois do carnaval a gente vê
isso.
Maria Eduarda nunca voltou à
Olinda.
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