terça-feira, 6 de abril de 2010

Quintessência

Detestava aquele tipo de festa. Embora fosse sempre alegre e efusivo, sentia-se tremendamente mal naqueles tipos de eventos, em que as pessoas assemelhavam-se a zumbis balançando o corpo de maneira incontrolável.

Tentara, sem sucesso, adaptar-se diversas vezes. Afinal poderia ter tido algumas experiências ruins das primeiras tentativas. Mas não conseguia. Nunca iria conseguir. A batida eletrônica ritmada e constante daquelas músicas não foram feitas pra pessoas como ele. E vice-versa. E tudo mais naqueles eventos o irritava. A quantidade de pessoas consideravelmente grande que se podia comportar em lugares tão pequenos era algo com que ele realmente se admirava. E se irritava. A enorme fila para entrar, para ir ao banheiro, para comprar cerveja. Isso categoricamente o irritava.

Gostaria muito de estar em outro lugar. Seria bom ouvir algum acorde de guitarra e uma voz que, de fato, cantasse. “O que estou fazendo aqui!?”. Mas sabia exatamente por que estava ali. Por causa dela.

Nas últimas semanas não estivera em outro lugar. Estava sempre com ela. Embora ela não estivesse.

Ela era normal. Os mais desavisados não notariam nada de especial naquela magricela. Definitivamente uma garota como outra qualquer. Destacava-se apenas pelas duas janelas com vista permanente para um imenso e calmo mar esverdeado. E era isso, aquelas duas janelas, que o atraía há semanas.

Já tinha chegado há um bom par de horas e se sentava com alguns amigos próximo de onde as pessoas dançavam. A aquela altura o álcool balbuciava suas primeiras palavras. Ele e os amigos conversavam sobre diversos temas sempre, mas os preferidos eram seus excêntricos professores, música, garotas e, dependendo do grau etílico da noite, sobre o universo e poesia. Falavam exatamente sobre Dylan quando ela chegou. Cumprimentou rapidamente a todos e foi dançar, afinal estava ali para isso. Ele também foi. Acompanhado, é verdade, de algumas latinhas de cerveja.

Disse tudo que queria dizer. Enquanto falava percebia que já não escutava suas palavras, tampouco a música que tanto o irritava. Notou ainda que sua visão tornava-se turva, perdia o foco. O único ponto nítido naquele furacão era ela. Toda sua atenção, todos os sentidos. Tudo era ela.

Ela ouviu com surpresa o que ele disse. E durante a vez dela de falar, ele percebeu o desfecho daquilo tudo. Pra ser sincero, poucas eram as chances dela ter por ele ao menos metade do que ele tinha por ela. E ele sabia.

Antes que ela pudesse terminar de falar, ele aproximou seu rosto e sussurrou “quintessência” em seu ouvido, mesmo aquilo não fizesse o menor sentido para ela. Para ele fazia. Sentiu-se bem após fazer isso. Sentiu-se como há muito não sentia. Sentia que podia dominar o mundo.
Despediu-se dos amigos e saiu. Estava uma bela noite lá fora. A brisa fria fê-lo sentir alívio. Nos dias que seguiram sustentou a sensação daquela noite, com o detalhe de não mais sentir com embriaguez. Queria dominar o mundo. Despediu-se dos amigos e saiu. Era um belo mês de maio aquele lá fora.

Um comentário:

  1. ei rapaz, eu escrevi um texto nessa mesma vibe, faz muito tempo... mas o final é diferente.
    enfim, quer dizer que o negócio é ser perscutador, né..

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